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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Morte Inconsciente

Ele estava inconsciente.
Desconhecia-se, desconhecia-me, desconhecia-te. Enfiou a mão no bolso daquela calça amarrotada e suja pelo tempo em que se desencontrou e trouxe para fora um cigarro. Acendeu com desespero e tragou com gosto. Tragou novamente. Falei-lhe mas não me ouvia, era em vão. Era triste pensar em largá-lo ali, daquela forma. Tentei novamente, falei e lhe arranquei o cigarro dos dedos. Ele fixou os olhos no chão e ficou meio bambo, não se aguentava em pé. Caiu no chão em busca daquela ponta de cigarro que ainda restava e tentou tragar, mas não conseguiu. Ali, naquela avenida, naquela noite, o tempo se fechava para ele. Abaixei-me para o olhar pela ultima vez e ir embora. Aqueles olhos vermelhos, mãos trêmulas, semblante esquizofrênico e o corpo magro, tudo pela última vez na tentativa de uma mudança, outra vez em vão. Levantei e dei as costas, mas não parti. Depois da freada brusca de um carro eu tive a certeza:
Ele estava morto.

Lucyléa Thomé


terça-feira, 14 de junho de 2011

Reticências

E quando eu não sei o que falar o que me resta é usar reticências... são elas que me salvam de situações embaraçosas, sem respostas e indiscretas.

Tão simples essa sequência de três pontos e tão complexa, porque é capaz de suportar uma infinidade de respostas, de palavras e de pensamentos. Três pontos discretos e tímidos mas que dizem tudo quando não se pode dizer nada.

Por isso eu amo reticências, porque só assim é que você me entende, porque só assim é que você me vê, muitas em uma.

Lucyléa Thomé

Desabafo I


Eu vi velórios, vi enterros, vi choros e chorei. Eu vi amigas que se abraçaram, cantaram, foram juntas e eu fiquei. Eu vi amores, vi casais, vi namoradinhos e ficantes e eu sobrei. Eu vi famílias, vi sorrisos, vi carinho e eu cansei. Vi o mundo se acabando, vi o terror do desespero, vi a morte e isso bastou, morri. 

Essa infelicidade, essa falsa alegria, esse sorriso forçado: acaba comigo.

Não era minha intenção tornar isso aqui tão pessoal e te permitir saber o que se passa na minh'alma, mas é que eu precisava mesmo desabafar.


Lucyléa Thomé

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Perseguição Oculta

Passos obscuros. Pés alados correndo do que o persegue insaciável. Ilustrando faces sombrias ao seu redor, conturbando sua mente inerte pelo medo. Clamou pelo maior medo dos homens, mas não lhe veio. E o sofrimento a desejar, dilacerando sua alma em agonia de alijar.

Lucyléa Thomé