Páginas

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Morte Inconsciente

Ele estava inconsciente.
Desconhecia-se, desconhecia-me, desconhecia-te. Enfiou a mão no bolso daquela calça amarrotada e suja pelo tempo em que se desencontrou e trouxe para fora um cigarro. Acendeu com desespero e tragou com gosto. Tragou novamente. Falei-lhe mas não me ouvia, era em vão. Era triste pensar em largá-lo ali, daquela forma. Tentei novamente, falei e lhe arranquei o cigarro dos dedos. Ele fixou os olhos no chão e ficou meio bambo, não se aguentava em pé. Caiu no chão em busca daquela ponta de cigarro que ainda restava e tentou tragar, mas não conseguiu. Ali, naquela avenida, naquela noite, o tempo se fechava para ele. Abaixei-me para o olhar pela ultima vez e ir embora. Aqueles olhos vermelhos, mãos trêmulas, semblante esquizofrênico e o corpo magro, tudo pela última vez na tentativa de uma mudança, outra vez em vão. Levantei e dei as costas, mas não parti. Depois da freada brusca de um carro eu tive a certeza:
Ele estava morto.

Lucyléa Thomé


Nenhum comentário:

Postar um comentário